quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Intercurso vital.


Daniela se encontra em um quarto escuro. Este quarto não tem janelas e nem sequer uma porta; dentro do quarto não existem mobílias e nenhum som atinge o cômodo para que se possa contar o tempo a partir dele.

O comentado quarto é tão escuro, e a moça ali permaneceu por tanto tempo que já não se recorda de seu nome ou idade, ela perdeu inclusive suas vontades, sonhos e por fim, personalidade.

Por algum tempo Daniela se questionou sobre os motivos de sua prisão: ‘será que errei?’, ‘onde errei?’, ‘meu erro foi tão grave a ponto de justificar tal pena?’.   Depois passou a questionar sobre si mesma: ‘em que momento deveria ter desistido das escolhas que me trouxeram até aqui?’.
Agora a garota se acha em pleno estado de resignação, chega a crer que na verdade o mundo é mesmo daquela forma que ela vê: um quanto escuro, sem móveis e sem entradas ou saídas para o exterior.
A porta do tal cômodo, no entanto, como nos sonhos de Alice* foi surgindo pouco a pouco e encontra-se agora completa e destrancada, pronta para ser aberta e guiar Daniela de volta ao mundo real.
Porém hoje algo inusitado acontece, a porta se abre de repente e eis que adentra o ambiente sem qualquer pedido de permissão a Esfinge, que lhe fornece luz e conhecimento, e ainda lhe permitirá que sejam feitas quaisquer perguntas sobre o passado.
Ainda atordoada com a luz forte que lhe cega os olhos e assustada com a entrada desta figura em seu quarto, a moça ouve passivamente tudo que a Esfinge tem a lhe dizer, ouve as suas sugestões e propostas.
Daniela está em estado de choque, não sabe o que pensar e menos ainda o que dizer. Ela não sabe se deve aceitar a proposta da Esfinge e teme não saber lidar com as conseqüências que virão dessa aceitação.
A única coisa em que Daniela consegue pensar no memento é: ‘porque agora, depois de tanto tempo vens me tirar do cômodo, do sossego, e por de volta em minha mente todas as dúvidas de antigamente?’ e ‘como ousas entrar em minha vida sem pedir licença?’
*Alice no País das Maravilhas, Lewis Caroll.

Xoxo.

3 comentários:

  1. Triste acostumar-se com a escuridão a ponto de não querer sair dela.

    :(

    ResponderExcluir
  2. Olá,Lobinha.Já comentei algo no seu Blog sobre a forma como você escreve.Percebo seu "eu lírico" mesmo quando o expressas através de imagens.Belas imagens.A tristeza e a desilusão parecem irmãs inseparáveis.Mas você se redime sentimentalmente esperançosa em si mesma.Isso seduz os olhos de quem ler o que escreves.Vc parece ser da área de Humanas:Letras.Acertei?Gostaria de vê-la desenvolvendo mais os seus contos.Eles possuem aspectos suficientes para isso.Pois,você tem muito talento,carga emotiva maravilhosa,é seletiva com suas palavras,cenário perfeito nas suas composições,além de fazer boas alusões nos seus textos.Muito legal.É possível vc dispor um e-mail pra contato.Grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Olá,Lobinha.Muitíssimo obrigada por responder ao meu comentário.Mas você ainda não disponibilizou
    no seu perfil um e-mail pra contato.Gostaria de trocar umas ideias com você.Vou aguardar.grande abraço.

    ResponderExcluir