segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A tal da Arca...

Creio que todos já ouviram falar da Arca de Noé; contadas por religiosos e cineastas, com diversas versões e detalhes variantes, mas ao final das contas a idéia é sempre a mesma: de que para todas as coisas do mundo existe sempre um par.
 Aham.
Então depois de passado o tempo da criação Deus estava em sua casa, sentado na varanda, sem nada para fazer, nada para organizar, completamente entediado, e aí resolveu fazer uma limpeza num dos mundinhos que Ele havia recentemente terminado.
Começou com um paninho seco, uma vassoura; mas como achou que iria demorar demais e que na verdade poderia ter escolhido uma atividade bem menos trabalhosa que esta, ligou para seu assistente e pediu para liberar logo de vez a mangueira d’água. Bem mais fácil.
E aqui começa toda a história...
- O Zé...
- Noé, senhor. (voz resignada; estranho seria se Deus acertasse seu nome).
- Que seja! Faz uma coisa, pega lá a mangueira que vou dar uma lavadinha naquele planeta novo, ok?
- Claro. O senhor prefere a verde de jardim, ou a amarela com ponta especial para limpeza de fachadas? Quer que eu busque também o sabão, álcool e demais produtos de limpeza? (em tom irônico, claro, visto que já conhecia muito bem a preguiça do mestre).
- Falando assim você até me desanima Zé...
- Noé, senhor. (começando a se irritar).
- Que seja! Já que você entende tanto do assunto, faça lá o serviço por mim, sim.
Pelo tom da conversa já podemos antever o estrago, não?
Não que Noé fosse um mau funcionário, ao contrário; mas é que depois de um tempo sendo tratado com indiferença, salário atrasado, nenhum beneficio e ainda morando no deserto a pessoa se estressa.
Pois bem, ele resolveu fazer uma limpeza ao estilo ‘salão de festa no dia seguinte’. Simplesmente iria afastar todos os móveis, levantar uma coisinha aqui e ali e mandar bala, quer dizer, água.
Enquanto pensava nas coisas que deveriam ser postas em seu lugar depois da limpeza, das coisas que deveriam ser preservadas e nas que deveriam ser jogadas fora, Noé começou sua tarefa nada animadora. Puxa um bote inflável e começa a arrumação.
Um casal de gramíneas, um casal de flores silvestres, um casal de árvores frutíferas; e assim já forma-se um jardim. Um casal de vírus, um casal de moscas e um casal de ratos selvagens; e dá-se a turma da contaminação.
Além disso, como já estava se acalmando e queria agradar o chefe e alegrar o ambiente, ainda reservou um casal de gatos de estimação, um casal de elefantes acrobatas e um casal de papagaios cantores.
Jurando que era organizado e caprichoso, resolveu deixar também uma contribuição para a humanidade: um casal de políticos, um casal de mendigos e um casal de humoristas de TV.
Noé então liga a mangueira d’água e sai para conferir outros detalhes...
- Zééé... Já terminou?
- Ainda não Senhor. (e meu nome é Noé, trouxa; murmura de lado).
Cinco minutos depois...
- E agora?
- Ainda não, Senhor. O trabalho é grande e cheio de detalhes. (diz em tom silabicamente marcado e bastante perturbado).
Dez minutos depois...
- Agora você terminou?
- Já... Terminei (e murmura: Cansei! Que se dane tudo!).
Definitivamente, assim não é possível evitar o estrago.
Para que tudo ficasse aparentemente pronto em tempo recorde, antes que Deus resolvesse conferir o serviço, Noé aumentou o fluxo da água e jogou sabão para todo que é lado, esperando que apenas a força da água fizesse o serviço por ele.
Adivinha...
Em poucos minutos o planeta todo virou uma grande bola de espuma, e o bote inflável que aparentemente deveria conter os itens não dispensáveis dentro, depois de vários movimentos aleatórios desordenados, virou.
Objetos molhados e misturados dançavam agora naquela imensa poça de água e espuma, deixando o aparente trabalho fácil de Noé cada vez mais difícil e estressante. Eis que surge a brilhante solução: puxar a tampa do ralo.
Jogando água no planeta espumante aqui e ali em pouco tempo a espuma já havia sumido e com a sorte de um sol desértico e escaldante em breve os objetos estariam bem sequinhos também.
Melhor ir colocando cada coisa na sua estante, não é?
Meia hora depois... Serviço elogiável.
Noé acreditava que Deus, em sua preguiça infinita, jamais iria se ater aos detalhes, muito menos verificar item por item da gigantesca biodiversidade planetária. Afinal de contas a aparência e a fragrância estavam excelentes.
- Noé, não é mesmo?!
- Sim. (voz trêmula de pânico; se Deus acertou o nome algo não sairia bem disso).
- Trouxe aqui uma listinha básica das minhas criações favoritas, sabe, e adoraria saber do tratamento que foi dispensado a elas.
- Ai... (o tom formal usado pelo mestre piorava ainda mais as coisas).
Deus então caminha lentamente por entre as estantes, verificando item por item, com uma precisão assustadora; com olhos por vezes pasmos, por vezes chateados e a cada poucos minutos tecendo comentários como: ok, ok, serve, ok, ok, passa...
É claro que nem tudo seria perfeito, ainda mais após tantos ‘acidentes’; houveram objetos trincados, alguns manchados, mas ao final os itens de maior importância haviam sobrevivido de modo bastante satisfatório.
Faltava apenas um item a ser verificado...
Sabe aquele objeto, o único feito com esmero e dedicação, ao qual o Criador dedicou horas e horas desde o projeto até a arte final? Então...
- Onde é que foi parar a outra parte da minha melhor criação dos últimos tempos? Onde foi que você enfiou o par da minha obra prima? ONDEEE ?

(E Noé pensa, com um sorriso enviesado: Deve ter escorrido cano abaixo, e ter se dispersado no universo... pobre parte restante, jamais será um par).

Xoxo.

2 comentários:

  1. adorei... huahauahuahuahau
    axo q sei q par eh esse q foi ralo abaixo... pena q nao vai voltar...

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  2. nossa, o post é perfeito.
    adorei hehehehehe
    tb desconfio de quem seja o tal par hehe
    ;)

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