quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O teatro.

Como mero expectador inocente e desconhecedor do espetáculo que ocorrerá dirijo-me ao interior aconchegante de uma sala de teatro do século XVIII.
Os corredores são largos, poltronas confortáveis, ambiente suficientemente acolhedor para que ali você não se sinta mal ao entregar duas preciosas horas de sua vida.
O atendente, um rapaz muito educado, se oferece para me guiar até o assento marcado no ingresso e, posteriormente, guardar meu casaco e cartola, que lhe entrego sem resistência.
Em seguida, após ter me instalado no local determinado, preparo-me para assistir ao que está por vir, ainda sem saber se a peça será um drama, comédia ou romance.
Cortinas vermelhas de veludo abrem-se lentamente, revelando pouco a pouco a atriz, uma mulher nua, que se encontra em pé, na posição de Cristo crucificado, no meio do palco.
Tem-se início o primeiro ato; a trama de excelente qualidade e o texto escrito com esmero é capaz de prender a atenção de qualquer ouvinte.
Penso tratar a peça de um romance; descrições de afeto, beijos e carícias ardentes o confirmam, palavras de amor o corroboram.
Eu, no entanto, iludido pela nudez da personagem, creio que o que ali se passa é tudo verdade, deixando-me levar pelas falas melodiosas.
Cortinas são fechadas e abertas, tem-se início o segundo ato, e eu, envolvido pelo sentimento que a atriz revelava anteriormente não entendo porque agora me despreza.
Sinto então que passo a uma comédia, onde o tema principal são meus sentimentos, jogados, maltratados, denegridos, e, como resultado, todos ao redor destilam risos convulsivos.
Chega então o ato final, a atriz parece sofrer com essa nossa separação, ou seria apenas a personagem? Percebo que é chegado o momento do drama.
Já envolto em lágrimas e dor não consigo mais notar se o que vejo é o espetáculo ou se é minha vida usada como roteiro para diversão alheia.
Fecham-se as cortinas, termina a peça, é chegada à hora de partir e deixar tudo para trás. Só agora sou capaz de concluir que aquilo tratava mesmo de uma tragédia. E creia, eu paguei por isso.


Xoxo.

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