quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Diagnóstico.

Luana acabava de chegar da sua consulta médica. Entra em casa e segue direto para o quarto onde se fecha no escuro para que finalmente possa derramar suas lágrimas sem precisar enfrentar a pena ou o julgamento de ninguém.
Quando se dirigiu ao consultório do cardiologista naquela manhã de segunda-feira Luana já pressentia problemas. Sempre soubera que não era uma garota comum como as demais, e não estava errada em suas conclusões, mas jamais poderia supor quão diferente ela era.
Após exames físicos e laboratoriais de rotina o médico adentra a sala de consulta e com um olhar ora piedoso ora intrigado se dirige à paciente afim de que com uma pequena entrevista possa chegar a algumas conclusões.
 - Senhorita Luana, poderia me dizer sua idade e as razões que a trouxeram ao meu consultório neste momento?
 - Ah, doutor. Sempre tive problemas com o danado do meu coração que às vezes para quando é preciso bater, às vezes acelera quando é preciso conter, mas principalmente pesa e enfraquece quando nos momentos em que dele mais preciso. Além de tudo, não há no mundo ar o suficiente que sacie o desejo dos meus pulmões. No alto dos meus 30 anos creio já não ser possível viver desta forma.
 - Sim, sim, sim. Eu compreendo. Mas diga-me mais uma coisa senhorita, por acaso sente seu coração doer?
 - Dói doutor, mas só quando respiro. Às vezes tento me manter sem ar, mas também isso me parece impossível...
E assim seguiu o diálogo por mais um tempo antes que o diagnóstico pudesse finalmente ser dado.
 - Senhorita, sinto lhe informar, mas, o que tenho diante de mim é a síndrome do coração partido, e seu caso é grave. Apesar da pouca idade seu coração é velho, já passou por diversas provações e não julgo apropriado forçá-lo a seguir um pouco mais. Seu coração pulsa com muita violência tentando com uma única batida produzir efeito para toda uma vida, no entanto, o resto do corpo insiste em ignorar suas vontades e sempre volta a lhe cobrar mais. O sangue corre em direção contrária fazendo com que todo o oxigênio que chegou em suas células dela seja expulso imediatamente fazendo-a se sentir sempre vazia e desejosa de um pouco mais. E o que há de pior, não há nada que se possa fazer, viver dessa forma é o seu destino, o que a mantém viva é também o que a faz sofrer.
Em seu quarto escuro Luana compreende que deve se resignar. Não é fácil aceitar que os atos comuns da vida, que deveria ser motivo de alegria e satisfação, seja para ela justamente o contrário. Luana sabe que ainda vai doer, mas só enquanto respirar.

Xoxo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário